Tudo o que você precisa saber sobre meningite: entrevista com Dr. Paulo Falanghe



A maioria das pessoas já sabe que meningite é uma doença séria, que, se não tratada corretamente, pode causar complicações e até levar à morte. Mas a verdade é que muita gente ainda tem dúvidas sobre o assunto: quais são os diferentes tipos de meningites? Quais são os grupos de risco? Como é feito o tratamento? Essas são apenas algumas das questões.

Pensando nisso, convidei o Dr. Paulo Tadeu Falanghe, pediatra e diretor da CdVac (Centro de Vacinação) de Piracicaba, para esclarecer todas as dúvidas sobre meningite. 

Vale a pena conferir e se manter sempre informada! Afinal, com saúde não se brinca!

O que é a meningite?

Dr. Paulo Tadeu Falanghe: Meningite é a inflamação das membranas que revestem o encéfalo e a medula espinhal (sistema nervoso), conhecidas como meninges. 

Quais são os tipos de meningites?

Dr. Paulo Tadeu Falanghe: A inflamação pode ser causada por infecções por vírus, bactérias ou outras causas menos comuns. A meningite é sempre considerada uma doença grave com risco de vida. As meningites que ocorrem com maior frequência são as causadas por vírus e bactérias. Essas se transmitem pela via respiratória. As principais bactérias causadoras de meningite na infância são: o Hemófilus influenza B, o pneumococo e o meningococo, existindo vacinas contra todas estas bactérias.

Meningococo é o nome de uma bactéria que causa doença grave: meningite e infecção generalizada (chamada meningococcemia). Apresenta alta contagiosidade. Ela tem vários tipos que são conhecidos pelas letras: A, B, C, W, X e Y. Os tipos A e X não acontecem no momento no Brasil. No nosso país o principal tipo que acontece é o C, por esse motivo, desde 2010 essa vacina foi incluída na rede pública de saúde para crianças até os dois anos de idade. É aplicada aos 3 e 5 meses de idade e um reforço entre os 12-15 meses de idade. 

Os tipos B, W e Y também acontecem em nosso meio, porém em menor frequência e com percentuais diferentes, dependendo das regiões do país. O meningococo B, apesar de menor prevalência do que o meningococo C, apresenta uma porcentagem maior nos estados do Sul e do Sudeste em comparação com outras regiões do Brasil. Curiosamente, Estados Unidos, Canadá e Europa têm maior prevalência do Meningococo B em relação ao C.

Qualquer pessoa pode ter meningite? Quais são os grupos/fatores de risco?

Dr. Paulo Tadeu Falanghe: Qualquer pessoa pode contrair meningite. A meningite bacteriana é mais comum em alguns grupos de pessoas. A meningite meningocócica e a meningococcemia, por exemplo, são mais frequentes em crianças pequenas, adolescentes, universitários e adultos jovens , viajantes e peregrinos. Ao viajar, as pessoas podem ser expostas a meningococos diferentes dos encontrados em seus países. Como nunca foram expostos a essas bactérias, os viajantes têm menos defesas contra elas.

Quias são as causas?

Dr. Paulo Tadeu Falanghe: A maioria das pessoas que apresenta meningite meningocócica ou meningococcemia contrai a doença de pessoas portadores saudáveis, sejam membros da família ou cuidadores, principalmente no caso de crianças. O risco é maior em bebês porque o sistema imunológico deles ainda não está totalmente desenvolvido e foi menos exposto a infecções.

Quais são os sintomas da meningite?

Dr. Paulo Tadeu Falanghe: Os sintomas mais comuns são: forte dor de cabeça e rigidez de nuca associados à febre alta, alteração do nível de consciência e vômitos. Em crianças pequenas, somente sintomas inespecíficos podem estar presentes, como irritabilidade e sonolência, além da própria febre e, em bebês, o abaulamento de fontanela. 

Como é feito o diagnóstico?

Dr. Paulo Tadeu Falanghe: O diagnóstico é feito pelo exame clínico, exames laboratoriais e principalmente através da análise do líquor, líquido cefalorraquidiano que envolve as meninges, colhido na maior parte das vezes por punção lombar. Também são usados exames de imagem.

Como é feito o tratamento para meningite?

Dr. Paulo Tadeu Falanghe: É muito importante que pessoas com sintomas da doença tenham avaliação médica precocemente. Pois, quanto mais cedo for iniciado o tratamento, mais chance de sucesso na recuperação. O uso de antibióticos é feito logo na suspeita diagnóstica, mesmo antes da confirmação da doença.

Quais são as complicações possíveis?

Dr. Paulo Tadeu Falanghe: Esta é uma doença que pode evoluir para um quadro muito grave, levando a sequelas ou até mesmo à morte. Nos casos que evoluem para cura, podem evoluir com sequelas, como surdez, dificuldade de aprendizagem, cegueira, convulsões, amputação de membros, hidrocefalia, entre outras.

Há como se prevenir da meningite?

Dr. Paulo Tadeu Falanghe: Diversas medidas de controle de ordem geral são importantes para prevenir a meningite. Hábitos de vida saudável, associados à lavagem de mãos são fundamentais. O diagnóstico precoce com a internação de pacientes com sintomas da doença e a vacinação também são de fundamental importância para a proteção das pessoas. Para as meningites bacterianas, inclusive as meningocócicas do tipo C, existem vacinas distribuídas pelo Ministério da Saúde. Para outros tipos de meningite meningocócica, também existem vacinas que são recomendadas pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Sociedade Brasileira de Imunização. São elas as vacinas meningococo ACWY e meningococo B. Essas vacinas somente estão disponíveis nas clínicas particulares. 

Quando devemos nos preocupar com a febre?

Dr. Paulo Tadeu Falanghe: De uma maneira simplista, devemos sempre nos preocupar com o estado geral do paciente, antes mesmo da preocupação com a febre. Se o paciente está bem, a febre pode aguardar eventualmente um período de 48 h, sendo que, após este período, convém que seja submetido a uma avaliação médica. Se o estado geral não está bem, a avaliação médica deve ocorrer o mais precocemente possível, independentemente de ter febre ou intensidade da mesma... 

Como vimos, uma meningite para ter sucesso de cura é essencial um diagnóstico precoce para o tratamento também precoce.