Quando a infância começa a ir embora


Por Alessandra Netti, psicóloga e neuropsicóloga

Querer ser mãe de pessoinhas é um sentimento que deve bater o coração de muitas mulheres, mas depois que você tem essas pessoinhas na própria vida elas vão crescendo, e a gente se envolve na loucura da vida para garantir tudo pra eles e muitas vezes nos pegamos “enlouquecidos” e nos esquecendo do grande propósito!!! Elas!!! As pessoinhas que desejamos imensamente!!

A correria e a angústia de como lidar com as primeiras cólicas, o sono atrasado, os primeiros passos, o primeiro dia na escola, as birras, as brigas entre irmãos, os enfrentamentos, sanar todas as necessidades e vontades... Vão nos tomando junto de outras realidades, muitas vezes difíceis e vamos nos distanciando da essência principal que são as NOSSAS CRIANÇAS!!

Mas esses dias, eu experienciei um momento grandioso.

Minha pequena, uma fofa de bochechas redondas, sorriso largo e risada gostosa, está agora com 13 anos. E agora as bochechas não estão mais tão redondas, o sorriso continua largo mas a oscilação de humor limitou a risada constante.

Essa semana, ela aproveitou que eu não estava trabalhando naquela tarde e disse: “mãe, você me acompanha até o Pilates”?! Claro!! Disse correndo, tentado aproveitar cada momento juntas.

Fomos caminhando a pé até a academia e na esquina, eu disse: Querida, vou até a farmácia e vou ficar te olhando entrar daqui. Ela concordou e foi caminhando até a academia.

Fazer esse “exercício” de ir soltando nossos filhos e ensiná-los a caminhar sozinhos gradativamente é fundamental, para eles e para nós.

Mas de repente eu observei a cena e ...

Meu Deus!!! Meu coração se encheu de amor e as lágrimas vieram inevitavelmente. Ela cresceu, está maior que eu. Andar firme, cabelos longos e pronta para começar a caminhar fora dos padrões infantis que eu estava acostumada.

Ela olhou pra trás, deu aquele sorriso largo pra mim e mandou um tchauzinho! Chorei! Que coisa gostosa eu senti naquele instante.

Me envolvi em um sentimento estranho. A “morte simbólica” de algo que não teria mais. A infância dela. Só ficaria na lembrança! As perninhas roliças, a barriguinha gostosa, aquela mãozinha fofa com seus dedinhos curtos. Não, eu não tinha mais. Mas tenho tudo o que está por vir e isso aquietou meu coração!!

Pedi para o Céu, protegê-la de todo mal que possa assombrá-la.

Toda graça por ser mãe. Peço proteção. Nesse mundo tão assustador. Hoje ela está caminhando até a academia e estou podendo acompanhar, mas, e depois?? Como faço com esse aperto no meu coração?? Essa vontade de colocar no meu colo e não deixar mais sair??

Eu preciso ensiná-la a caminhar sozinha e preciso permitir esses passos.

Coloca então,Tua Mão Grandiosa e garanta que se faça Grande o Teu Amor por nós. Para que eu consiga aguentar a saída desses filhos do meu “colo”.

O céu estava limpo, não havia nuvem e o azul do céu era delicioso de ver. Senti meu pedido chegado Lá!! Agraciada por uma paz dentro de mim, pude seguir para o que tinha que fazer.


A psicologia do desenvolvimento vai nos pontuando as etapas infantis e como ajudá-los a se desenvolverem satisfatoriamente. Porém, ainda estamos aprendendo como trabalhar dentro de nós a aventura de vivermos essa nova etapa da vida que é a adolescência. A transformação não deve ser apenas dos nossos filhos, mas nossa também, com sabedoria, ternura e gratidão.