Cantar a vida e ir além da rotina




Maristela Negri Marrano*

Tínhamos acabado de sair da academia e estávamos voltando para casa, finalzinho de tarde e início da Primavera. A estação faz com que nos deparemos com várias formas, perfumes, sabores, cores e sons. Isso nos mobiliza, aflora nossos sentimentos e percepções. Foi justamente um som específico que atraiu o olhar do meu filho Matheus, o qual imediatamente mudou o trajeto e caminhou em direção à praça, onde nos deparamos com algumas cigarras.

Matheus, desde pequeno, sempre teve um olhar diferenciado pela natureza e logo observou no tronco de uma árvore uma cigarra saindo naquele exato momento de sua “casca”, o exoesqueleto duro, que é responsável pela proteção interna do inseto. Mas, ao mesmo tempo em que a protege, o exoesqueleto também limita o crescimento, pois a cigarra cresce e sua casca continua do mesmo tamanho. Aí é necessário romper essa casca para que ela desperte para a vida.

Meu filho logo me alertou sobre a beleza daquele momento e ambos registramos em nossas memórias e em nossos celulares esse milagre da natureza. A cigarra estava se desnudando, desapegando-se de sua casca, permitindo-se florescer para o belo, para o novo, sentindo-se livre para voar, para cantar, encontrar outros caminhos diante a infinidade de possibilidades.



Ela prossegue sem medo do que esta por vir, simplesmente canta e vive intensamente seus instantes na terra. Encantados com o momento, algo acontece: nossas almas se nutrem e saímos da casca, camada por camada. Meu filho e eu despertamos o nosso sentir, para ir além do que a rotina convida, continuamos nosso caminho cantando a vida como a bela cigarra.

Gratidão!

* Maristela Negri Marrano é sócia diretora do Centro de Longevidade e Atualização de Piracicaba (Clap), pós-graduada em Neurociências aplicadas a Longevidade (UFRJ) e mestre em Educação Física (Unimep). E-mail: maristela@centroclap.com.br