Quando a gagueira aparece, por Marina Almeida de Sá

Da série Desenvolvimento de Linguagem e suas alterações



E a casa se enche de alegria, nosso pequeno arrisca suas primeiras palavras. Seguindo-se a isso forma frases simples, compostas de duas a três palavras e quando menos esperamos está fazendo frases mais complexas e expressando seus desejos e necessidades. Mas por volta dos 3 anos algo acontece...

“- Mamãe, hoje eu, eu, eu, fuiiiii nananana escola e brinquei bastante.”

É aquele momento onde a criança quer contar alguma coisa, mas parece que algo está de alguma forma truncando a fluidez de seu discurso. Nesses momentos o importante é não se desesperar.

Durante o processo de aprendizado, seja ele qual for, vamos adquirindo conhecimento que vai se estruturando até que passe a fazer parte de nosso acervo de novas habilidades. Com a fala é da mesma forma, a criança vai adquirindo e estruturando sua linguagem e aos poucos vai arriscando-se mais e mais na grande aventura da comunicação, mas em alguns momentos isso pode falhar. Para essas falhas, damos o nome de disfluência e é preciso que fique claro que a disfluência difere da gagueira propriamente dita.

Como já disse anteriormente, as disfluências podem aparecer por volta dos 3 anos de idade e deixam de ser frequentes por volta dos 5. Elas se caracterizam por repetição de sons, sílabas ou palavras e se enfrentadas com naturalidade, passam a ser menos frequentes. Quando esse tipo de repetição começa a ser acompanhada de gestos e caretas, isso se torna um sinal de alerta. Nesse momento ou em caso de dúvida procure um fonoaudiólogo especializado para uma avaliação. As disfluências tendem a desaparecer com o tempo e a gagueira do desenvolvimento deverá ser tratada precocemente.

Tanto nos casos de gagueira quanto nas disfluências, as orientações aos pais e pessoas envolvidas no cuidado com a criança são os mesmos e logo abaixo deixo uma lista de como agir nesses casos.

1. Entender as diferenças individuais de fala, aumentar a tolerância e expressar aceitação ajuda a reduzir os medos e as frustrações com a fala disfluente;

2. Evite dizer frases como “pare”, “respire”, “fale devagar”, “tente de novo”;

3. Não demonstre pressa ao falar com a criança. Use pausas frequentes e espere alguns segundos para falar após da fala da criança. Uma conversa calma e relaxada se mostra muito eficaz;

4. Deixe a criança expressar livremente suas ideias sem apressá-la ou enche-la de perguntas;

5. Demonstre mais interesse ao conteúdo do que a criança diz do que a forma com que ela fala, para isso utilize-se de expressões faciais e corporais;

6. Ouvir é parte essencial da comunicação, assim ser ouvido deve ser agradável e recompensador;

7. Oriente todos os membros da família a escutar e esperar a sua vez de falar. Tal ação facilita o diálogo dentro de casa, o deixando mais tranquilo e auxiliando principalmente aqueles que gaguejam a realizar um discurso sem interrupções e contando com a atenção de todos;

8. Disponha de tempo para falar com seu filho e mostre que ele possui tempo para falar aquilo que deseja;

9. Evite criticá-lo, interrompê-lo, enche-lo de perguntas e falar rápido demais;

10. Deixe claro que ele é aceito como é;

11. Expresse apoio, use padrão vocal afetuoso, se aproxime, demonstre afeto, toque a criança, abaixe-se ao seu nível para conversar com ela e principalmente evite caretas de repreensão ao ouvi-la falar;

12. Não repreenda, ridicularize nem exponha a criança por causa de sua fala;

13. Não a ameace com castigos, injeções ou monstros, nem a mande parar de gaguejar;

14. Não a “ajude” a terminara suas falas, nem estimule a substituir as palavras gaguejadas por palavras fluentes. Isso aumenta o nível de preocupação com o vocabulário, aumenta a sensação de insucesso e não diminui a gagueira;

15. Reconhecer os momentos de dificuldade e deixar claro que eles são notados mas não criticados, o que demonstra a criança que o assunto não é tabu e que se pode falar sobre ele sem problemas.

Tais dicas ajudam tanto nos casos de disfluência comum na infância como nos casos de gagueira do desenvolvimento, pois entre outras coisas dão um teor mais tranquilo a comunicação no lar. A intervenção precoce na gagueira é fundamental para evitar sua evolução. Melhorar a gagueira não é uma tarefa fácil, que se realiza em pouco tempo. Para isso é necessário que na família se desenvolvam habilidades como tolerância e colaboração.

Da mesma forma, na disfluência, um ambiente colaborativo, harmonioso, tolerante e cheio de amor minimiza seus impactos e torna mais fácil a passagem por esse período.

Marina Almeida de Sá Fonoaudióloga / CRFa 2-16.210 Rua Voluntários de Piracicaba, 1185 – Bairro Alto
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